Dicotomia brasileira
- Tabahyba
- 21 de mar. de 2024
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Dia Internacional Contra a Discriminação Racial - 21 de Março
Esta data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em memória ao Massacre de Sharpeville, que ocorreu na África do Sul em 1966 e deixou 69 vítimas fatais e 190 pessoas feridas, quando pessoas negras manifestavam contra o apartheid (“sistema político que vigorou entre 1948 e 1994 na África do Sul, sustentado por um partido de extrema-direita chamado Partido Nacional e se baseou no estabelecimento de uma legislação segregacionista, com o intuito de promover uma série de privilégios para a parcela branca da população."), visando enfatizar as conquistas e desafios de transpor as barreiras contra à discriminação racial, tanto de pessoas negras, indígenas ou outras raças.
De acordo com a ONU, discriminação racial define-se por “toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública”.
No Brasil, a partir da Constituição de 1988, o crime de racismo foi considerado como inafiançável e imprescritível, mas ainda vemos e vivemos, diariamente, questões sérias relacionadas com o racismo que criam barreiras para o desenvolvimento de uma sociedade igualitária, diversificada e inclusiva.
Recentemente o termo “racismo estrutural” virou pauta de várias matérias jornalísticas, traduzindo, infelizmente, que é repetido na nossa sociedade estruturas de fala e de comportamento racistas, que são normalmente aceitos sem crítica, tendo em vista os 300 anos de escravização em que o Brasil fez parte e as estruturas de poder que se mantém desde então, normalizando a barbárie.
O Brasil foi o país que mais recebeu africanos escravizados na Era dos Descobrimentos (ou invasões?), desde os meados do século XVI até o século XIX, para servir de mão de obra para a construção do país. Ou seja, o nosso país foi construído por pessoas escravizadas que contribuíram para as grandes fortunas e produção de riquezas (até hoje!). Começamos, então, a entender o tal “racismo estrutural”, quando a estrutura de poder, desde 1500, continua a mesma, mantendo os afrodescendentes à margem das oportunidades e decisão de poder. Esta é a grande dicotomia, tendo em vista que a maioria da população brasileira é de pessoas pretas (Censo 2022 IBGE, 55,5% de pessoas pretas (45,3% de Pardas e 10,2% de Negras)). Importante enfatizar, que os africanos escravizados receberam a sua liberdade em 1888 pela Lei Áurea, mas nenhum projeto para integração desta população e reparação histórica foi feito, muito pelo contrário, os africanos livres eram proibidos de estudar, dificilmente tinham terra e moradia, mantendo uma dependência à estrutura escravocrata patriarcal que reconhecemos até hoje (movimentos da extrema direita que pipoca em vários países no globo).
A Tabahyba vem informando sobre o passado e sempre estará reforçando projetos que promovam o desenvolvimento da base da pirâmide socioeconômica, visando resgatar e devolver a esta população tudo o que foi nos dado, de forma compulsória. Acreditamos que o Brasil é uma potência justamente pela sua diversidade, e essa diversidade só pode ser plenamente exercida quando TODOS tiverem as mesmas oportunidades.
Lembramos que os povos originários também tiveram e têm a mesma triste história no nosso país e os incluímos também, recontando o passado e os incluindo nessa diversidade potente que é o Brasil.
Renata Ramos
Sócia Fundadora Tabahyba
Fontes:
Censo 2022: pela primeira vez, desde 1991, a maior parte da população do Brasil se declara parda | Agência de Notícias (ibge.gov.br)
Pereira, Julio César Medeiros da Silva - À flor da terra: o cemitério dos pretos novos no Rio de Janeiro